O primeiro dia de trabalho do Seminário Amazônia Indígena apontou para discussões primordiais para a garantia do bem estar e da qualidade de vida dos povos indígenas, do entorno das terras indígenas e, fundamentalmente para a preservação do meio ambiente.
As discussões da mesa da manhã desta terça-feira, por exemplo, reuniram experiências de mapeamento e de gestão territorial em diferentes escalas: sociedade civil, movimentos indígenas e governos local e federal, conforme o objetivo proposto pelo evento. Alguns pontos podem ser destacados como essenciais entre os participantes: inclusão social e protagonismo indígena nas políticas ambientais; a garantia da floresta em pé e a alta biodiversidade das Terras Indígenas dependem de ações e iniciativas conjuntas, bem como a maioria sofre com os impactos dos grandes empreendimentos, principalmente os que estão voltados para produtos de exportação como a soja, o minério e petróleo.
Confira alguns depoimentos sobre o Seminário Amazônia Indígena:
Gostei da experiência da Raposa Serra do Sol |
Josias Maná Kaxinawá
Agente Agroflorestal Indígena da Terra Indígena do Rio Jordão - Acre
“O encontro é importante porque poderemos conhecer outros povos de outras regiões e outros países, que têm realidades diferentes. A metodologia é igual, pois todos vêm trabalhando com mapeamento participativo, dando importância para a cartografia indígena, que vai poder desenvolver a terra indígena com proteção das florestas e os recursos naturais, com agricultura familiar, através dos sistemas agroflorestais. A troca de experiências e conhecimentos traz informações de qualidade sobre os trabalhos tradicionais, que os povos já fazem. As formas de organização dos indígenas também to vendo como interessantes porque esse trabalho é que dá fortalecimento dos conhecimentos dos povos. Gostei da forma como o pessoal da Raposa Serra do Sol tem o criatório de animais. É bem planejado e mostraram que podemos pensar de outras formas de manejo, com proteção e criação de animais.”
As diferenças são as legislações dos países |
Manuela Ruiz Reyes
Oficial do Programa Amazônia/WCS
Colômbia
“As metodologias são comuns: as fases de formação das pessoas no seu processo onde eles mesmos fazem os mapas. As diferenças são as legislações dos países e os contextos de desenvolvimento econômico; alguns países ou regiões têm mais ameaças, outras regiões maiores têm maiores possibilidades de ameaças. As ameaças são um risco comum, mas as legislações e os tamanhos são diferentes dos países. Eu acho que, por exemplo, o Brasil tem Terras Indígenas muito grandes em relação a outros países e a vigilância pode ser mais difícil de acontecer. Na Colômbia tem um problema de titularidade das terras, uma confusão entre a figura indígena que o Estado deu nos anos 1970 com a figura de resguardo que o mesmo estado deu em 1990. Isso dificulta a possibilidade de defesa do território. O estado diz que agora somente a figura de resguardo, que é muito menor, que é a figura legal da propriedade sobre a terra. Mas os indígenas não estão completos nesse resguardo que tem, e isso facilita a entrada de mineradores, madeireiros, petroleiros. Aqui no Brasil, estão mais adiantados com seus planos de gestão e sua articulação com as outras políticas estaduais e municipais. O seminário pode dar uma esperança com a possibilidade de conhecer as diferentes situações dos povos. O evento proporciona condições de trocas para podermos saber quais são os seguintes passos que podem ser feitos nos diferentes países, para pensarmos conjuntamente o fim e, quais são os objetivos de fazer esses respectivos mapeamentos.”
Os indígenas sabem o que querem e o que precisam |
Pablo Landivar
Cooperante NAWE - WCS
Equador
“As minhas primeiras impressões dão conta de que estamos no caminho certo e importante, pois é a primeira possibilidade que temos de intercambiar estas experiências. Temos realidades diferentes, mas o trabalho é o mesmo, a metodologia é a mesma. Estamos no caminho correto porque, nós, os técnicos, damos assessoria, mas são os indígenas que fazem o levantamento dos dados e constroem os mapas. Eles é que sabem o que querem e o que precisam para sua vida e decidem sobre o que fazer. Depois da assessoria, os técnicos dão um passo e se retiram, mas eles, os indígenas, continuam. E continuam com maiores e melhores informações, o que consolida os resultados, garantindo a conservação dos territórios.”
É importante conhecer bem tudo o que tem na nossa terra |
Kasiripiná Apina – povo Wajãpi
Macapá – AP
“O encontro é importante e viemos mostrar que nós vivemos na nossa terra e ela ainda está com a floresta em pé. Sabemos que têm ameaças chegando e, por isso, é importante conhecer bem tudo o que tem na nossa terra, para poder proteger. Tudo o que tem lá é nosso: árvores, animais, rios e igarapés. Com o mapa a gente sabe como cuidar.”
Fotos: Val Fernandes/Acre
Fotos: Val Fernandes/Acre
Parabéns pelo encontro e pelas ricas trocas! Simone - Iepé
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