sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O etnomapeamento é uma linguagem comum entre os povos indígenas da Bacia Amazônica

O último dia do Seminário Amazônia Indígena está sendo dedicado à finalização das discussões sobre gestão territorial e etnomapeamento. Pela manhã, a apresentação dos resultados dos Grupos de Trabalho, reunidos desde ontem (19/11) mobilizou os participantes em uma grande plenária. Entre os consensos, o uso de etnomapas é uma ferramenta facilitadora entre os conhecimentos dos povos indígenas e o acesso às políticas públicas de estado.
Outro ponto comum bastante aclamado foi que a identificação dos territórios funciona como uma informação ancestral, onde os povos indígenas têm condições de se comunicar com a sociedade local e mostrar às gerações passadas e futuras a diversidade de cada cultura.
Confira o resumo de algumas conclusões da manhã desta sexta-feira:

Grupo de Trabalho 1
Temática: Mapear territórios indígenas: porque, por quem e para quem
“O mapa pode ajudar a garantir o conhecimento, a posse e o uso de nosso território. Assim, mapa é uma ferramenta que faz parte de um processo histórico, social e político, ajudando a fortalecer a identidade indígena e a pensar coletivamente sobre a gestão do território. Mapa também é símbolo, para não índios e índios, que precisam saber respeitá-lo. Mapa não é estratégia. Estratégico é o que se faz com ele, pois mapas são componentes de um processo maior. Mapa não tem vida própria, o que é vivo está dentro de nós, que usamos mapas. O ponto central é a visão de gestão (plano de vida). Mapa ajuda a recuperar a dignidade dos povos indígenas e sua memória social e cultural (ex. Yanesha). Resgate de valores: unidade, identidade, pensamento coletivo, autonomia. Mapa é um meio de prever o futuro (Plano de vida), indicando caminhos para cuidar de sítios sagrados, manejar os recursos naturais conforme a natureza permita, e de relacionar-se com os vizinhos indígenas (inclusive para suas formas de organização política) e não-indígenas. Serve para subsidiar políticas públicas e tratar de conflitos, em diferentes escalas (local, regional, nacional e internacional). Mapeamento pode ser feito por etapas, sendo detalhado gradativamente (densidade de informações e área de abrangência), iniciando pelas áreas ancestrais e passando por um mapeamento moral (valores que estão se perdendo).” 

Grupo de Trabalho 2
Temática: Políticas Públicas – qual a relação?
“Existe grande diferença no que se refere à existência e ao tipo de arranjo institucional para lidar com a questão indígena, havendo desde situações em que organismos de estado não são funcionais para lidar com isso (ficando a responsabilidade com as organizações indígenas e as da sociedade civil – caso do Perú) até situações em que o planejamento territorial aparece como indicador de capacidade de gestão que faculta a autonomia administrativa das TCOs (caso da Bolívia), passando por situações em que políticas públicas de diferentes níveis (estadual/federal) têm sido formuladas com base em mecanismos de consulta pública (caso do Brasil). Alguns países vêm passando por mudanças significativas em seus marcos regulatórios relativos a ordenamento territorial e ao reconhecimento das autonomias indígenas.”
Confira o debate dos outros grupos de trabalho:
Grupo de Trabalho 3
Temática: Formação
A formação é importante para o diálogo entre os conhecimentos tradicionais e os da ciência ocidental. A soma destes é necessária para o enfrentamento de desafios atuais dos povos indígenas. Neste sentido, os etnomapas servem para identificar as potencialidades do território e direcionar e incentivar tipos de formações necessárias que as comunidades devem investir;
Espera-se, também, que espaços formais e informais de educação se misturem e que os povos indígenas se apropriem desses espaços para imprimir neles sua educação tradicional. É então necessário que os governos reconheçam a diversidade e a diferença dos povos indígenas para que a educação escolar, os currículos, as atividades extra-escolares, atendam as reais necessidades das comunidades – educação para o território. Porém, os etnomapas não substituem os processos tradicionais de repasse de conhecimentos tradicionais;
Grupo de Trabalho 4
Temática: Questões transfronteiriças
Aqui, o grupo abordou a questão e identificou alguns pontos necessários para os trabalhos realizados entre as fronteiras dos países:
Fortalecer a articulação da sociedade civil binacional nas agendas indigenistas e ambientalistas;
Fomentar a cooperação internacional para a região de fronteira;
Fortalecer a agenda política dos povos indígenas;
Garantir a participação dos povos indígenas nas discussões e nos processos decisórios sobre integração e desenvolvimento transfronteiriço;
Usar os mecanismos internacionais (C 169 OIT, CDB, DNUDPI, TCA)
Grupo de Trabalho 5
Temática: Manejo e conservação de paisagens  
Foi necessário redefinir alguns conceitos para o grupo:
 - manejo seria a interação com as paisagens;
- paisagem é um conjunto de elementos materiais e imateriais, que estão localizados em um determinado espaço, abrangendo suas interelações e a cosmovisão do povo que ali habita;
- pensar sempre nas classificações indígenas das paisagens.
Ainda foi dito que o emprego de mapeamentos participativos como instrumento de planejamento do manejo e da conservação de recursos naturais devem ser relevantes aos povos indígenas em seus territórios. E, neste caso, exemplificação de mapeamento de paisagens e seus recursos como instrumentos do processo de elaboração de planos e formas de Manejo.
Grupo de Trabalho 6
Temática: Pressões e ameaças às terras indígenas  
Para este grupo, o uso de etnomapas e outras formas de representação do espaço são fundamentais na identificação, no diagnóstico e na resistência às pressões e ameaças aos territórios indígenas na Amazônia. Porém, conforme avaliou o grupo, os mapas precisam de reconhecimento oficial.
Três pontos abordados para a reflexão:
Divulgação e circulação ampliada dos mapas (toda as informações?)
Maior apropriação indígena do processo de produção dos mapas (tecnologia)
Mapas não devem ser impostos (que mapas os índios querem?)
Grupo de Trabalho 7
Temática: Princípios na relação com os conhecimentos tradicionais  
Aqui a discussão se deu no modo como os indígenas e suas organizações parceiras lidam com dilemas da publicação e da circulação dos etnomapas. Também com outros resultados de suas iniciativas nesse campo, na medida em que incorporam conhecimentos tradicionais que também são protegidos. Uma das conclusões dos integrantes do grupo:
- os mapas podem ser uma ferramenta útil, desde que existam organizações indígenas fortes e legitimas que o saibam utilizar, porque do contrário podem voltar-se contra os povos;
Grupo de Trabalho 8
Temática: Direitos indígenas ao território  
Sem mapeamento não há possibilidade de afirmação legal dos direitos territoriais, concluiu este grupo. A discussão também se deu a partir da relação entre as ferramentas de mapeamentos participativos e de gestão de territórios indígenas e o reconhecimento dos direitos territoriais indígenas. “Quanto mais participativo for o processo de elaboração dos mapas melhor é o processo de acesso aos direitos territoriais”, avaliaram os integrantes da discussão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário